Presidente da Tradener, Walfrido Avila, é destaque novamente na grande imprensa nacional. Confira a matéria publicada no Broadcast Estadão.
Especial: Atraso nas chuvas deixa energia mais cara até novembro; normalização só em dezembro
Por Wilian Miron e Luciana Collet
São Paulo, 28/09/2020 – A atuação de uma pressão atmosférica tende a atrasar o início das primeiras chuvas do período úmido 2020/2021 e impulsionar os preços da energia no curto prazo até o final de novembro. A perspectiva é de um PLD médio mensal de até R$ 200/MWh em outubro, podendo chegar a R$ 240/MWh em novembro. Apenas em dezembro, com a expectativa de melhora das precipitações e início de recuperação dos reservatórios das hidrelétricas, o preço deve recuar para um patamar próximo de R$ 100/MWh, na avaliação de comercializadoras ouvidas pelo Broadcast Energia.
No final de semana entre 18 e 19 de setembro, quando já estava no radar do mercado a chegada das chuvas
mais intensas que marcam o início do período úmido, houve a entrada de um sistema de alta pressão, fenômeno climático associado à existência de áreas com céu azul e poucas nuvens, tempo seco e sem chuvas. Isso acabou bloqueando as precipitações esperadas para as regiões Sudeste e Centro-Oeste do País, impulsionando os preços da energia no curto prazo – o clima mais seco e a perspectiva de ausência de
chuvas mais significativas pelos próximos dias está por trás do forte aumento de 64% no preço de liquidação das diferenças (PLD) dos submercados Sudeste/Centro-Oeste, Sul e Norte, saindo de R$ 105,54/MWh e indo para R$ 172,67/MWh esta semana.
“Estamos com a atuação de uma alta pressão intensa na região central do País e que pega parte do Sudeste,
proporcionando um bloqueio atmosférico”, afirmou a meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia
(Inmet), Andrea Ramos.
Segundo ela, a variação ou atraso no início das chuvas durante a transição entre o inverno e a primavera,
época que marca o fim do período seco e o início do período úmido, são comuns e a perspectiva é que
volumes mais significativos de chuvas ocorram a partir da segunda quinzena de outubro. “O que temos nos
próximos dias são chuvas mais localizadas e rápidas, que ocorrem na borda do fenômeno. Os volumes mais
significativos devem vir na metade do mês que vem e se intensificar a partir de novembro”, explicou.
Devido à mudança na previsão para a chegada das chuvas mais intensa, que eram esperadas já para o último final de semana, é possível que a formação das afluências (volume de água que chega nos reservatórios das hidrelétricas) demore um pouco mais do que o esperado inicialmente, acelerando a redução do nível de armazenamento. Isso impacta o cálculo do PLD, referência para os contratos de curto prazo no mercado livre.
“Tivemos uma alta pressão que mudou o cenário, o que atrasa um pouco a recuperação dos reservatórios, e
isso pode fazer com que os preços de novembro sejam até maiores do que os de outubro”, comentou o presidente da Brasil Comercializadora Energias, Elias da Silva Júnior.
Segundo o presidente da Brasil Energias, os preços do início de novembro serão influenciados pelo custo
futuro, que tende ser mais altos no início do mês, mas começam a cair nos primeiros dias de dezembro. “Para ter preço mais baixo em novembro, vai precisar chover muito acima da média em outubro, e, com o atraso da última semana, fica mais difícil. Já em dezembro, o valor deve ser mais comportado, entre R$ 90 e R$ 100 por MWh”, disse.
O gerente de Research do Grupo Delta Energia, Fabiano Mourão, acredita que, para que a formação de preços de novembro não sofra um grande estresse, é preciso que o volume de chuvas se intensifique a partir da segunda quinzena de outubro. “Por mais que comece a chover em outubro, a afluência tem que ser muito
significativa para isso se transformar logo em energia, para o preço não ficar estressado”, afirmou.
Já para dezembro, ele acredita que não haverá problemas na hidrologia, e que os preços começarão a voltar
a patamares próximos aos R$ 100/MWh. “A expectativa é que em dezembro não tenha estresse. A dúvida é
se o volume de chuva chegará a corrigir o curso do preço já em novembro ou não”, afirmou.
Como inicia 2021?
Embora o nível dos reservatórios das hidrelétricas seja o principal motivo para oscilações nos preços de
energia neste final de ano, as comercializadoras monitoram também o potencial de recuperação da atividade econômica, que pode modificar a demanda por energia no País.
Na visão do presidente da Tradener, Walfrido Ávila, a situação econômica do País afeta os preços porque o
mercado não está crescendo tanto quanto poderia, ao mesmo tempo que as obras de expansão da geração e
da transmissão de energia estão entrando em operação.
“Nessa situação, o preço baixa, porque o mercado está melhor atendido, e não há risco de falta de energia,
até porque os reservatórios estão mais altos do que no ano passado. Somando-se isso à chegada das chuvas,
a tendência de longo prazo é uma queda nos preços”, afirmou o presidente da Tradener.
Segundo o sócio-diretor da Dcide, Henrique Felizatti, ainda há muita incerteza sobre os fatores que influenciam na formação do preço de curto prazo. Ele cita as dúvidas sobre o efeito do La Niña nas precipitações ao longo do período úmido e ainda a dificuldade de antecipar o desempenho econômico, que,
na sua visão, tende a ter uma maior influência nos preços de curto prazo neste momento.
Já o Fabiano Mourão, da Delta Energia, lembra que a retomada da atividade econômica influenciará a próxima revisão quadrimensal da carga de energia, no final do ano, alterando a perspectiva dos próximos cinco anos, com impacto também sobre os preços. “Isso impacta a formação de preços já no primeiro trimestre de 2021”, explicou.
Fonte: Broadcast Estadão
28.09.2020